sábado, 27 de fevereiro de 2010

Bom pessoal, peço desculpas a todos pela minha demora para postar.
Estive com tantas coisas para resolver neste meio tempo que não pude conectar-me ao blog. Mas agora voltei firme e forte. E para compensá-los, vou postar uma pequena estória. Espero que gostem.

Mistérios da Vida
- Então senhorita Blenda, qual é a sua resolução para o problema? - As palavras da mestra de química me pegaram desprevenida.
Olhei para o lado, a súplica para uma ajuda de algum colega era evidente. Não restaram alternativas e lá estava eu novamente, sentada perante o diretor Cury.
O discurso meticuloso sobre ética e moralidade aparentava ser o mesmo já escutado. Cada detalhe da sala, o carpete manchado, as paredes mofadas e até o rangido da cadeira do Cury me desgastava. De repente minha mente parou e num ato impulsivo, corri da sala da diretoria, fui ao encontro de Ricardo.
Os braços de Rick, apoiados sobre o balcão da recepção do colégio, me paralisaram. Pude sentir a pulsação aumentar no mesmo instante que o vi, corri para o seu aconchego, nem ao menos escutei os gritos furiosos do diretor vindo em nossa direção. Minha mente estava em ebulição. Abro os olhos e encontro o olhar questionador de Cury encarando-me.
Tudo acontecera rápido demais, a separação dos meus pais, a descoberta da doença e a evolução do relacionamento com Rick. A única coisa que eu precisava naquele momento era aconchego e atenção, e foi neste momento que me entreguei por completo a Ricardo. Ele me ajudava em todos os momentos difíceis, sempre ao meu lado.
Ao perceber os olhares furiosos de Cury, busquei repetidas vezes acalmar-me, já que precisaria utilizar bons argumentos para persuadí-lo a me deixar ir para casa sem que nada fosse relatado para meus responsáveis. Após longas horas de conversa, consegui convencê-lo a me liberar através de uma boa explicação sobre as possíveis causas para o meu péssimo comportamento.
Encontrei Rick esperando-me sentado no antigo banquinho de madeira do pátio. Nos despedimos e segui em direção a minha casa, como fazia diariamente.
Abri a porta e, como de costume, gritei o nome de minha mãe, nada em resposta, preocupada, corri até seu quarto e a encontrei novamente estirada no chão do banheiro. Os braços e a face apoiadas no vaso, o corpo debilitado sofria com os efeitos da quimioterapia. Sentei-me ao seu lado e a abracei. Ficamos assim por um bom tempo. Os flashes de minha infância na casa de praia aparentavam uma realidade longínqua, o bom tempo passara e o caos se instaurava em nossas vidas.
As sirenes de ambulância me fazem acordar na manhã seguinte, aos poucos desperto-me e desço as escadas. Encontro o corpo da minha mãe sobre uma maca e olho assustada para a empregada.
Os passos apressados no corredor da U.T.I. exalavam preocupação e medo, o caso dela era crítico, a doença avançara rapidamente. Passo os próximos dias sentada na poltrona da sala de espera ansiosa por uma resposta positiva dos médicos.
No quinto dia de espera, ainda sentada na poltrona com Rick, vejo um médico com andar desajeitado vindo em nossa direçao. Olhou-me diretamente nos olhos e logo os desviou com um pedido de desculpas. Desabei naquele momento. Abracei Rick com toda a força possível. O que faria da minha vida a partir de agora?
A marcha fúnebre foi simples e contava apenas com a presença de poucos amigos e familiares, além de meu pai e Rick.
Após o enterro segui em direçao ao carro de meu pai junto a Ricardo. Passamos por um túmulo que chamara a minha atenção desde o momento em que entrei no cemitério, e com uma olhada rápida, vejo a foto de Rick com uma frase ao lado “Um grande filho, amigo e namorado/ 1945-1962”.